Walter Pall e os primeiros dias de bonsai na Alemanha
Autor: Walter Pall
Colaborador: J.P. Arzivenko
Foi
somente no começo da década de oitenta que eu comecei a fazer bonsai,
naquela época era muito difícil conseguir informação ou encontrar
livros. Eu descobri que existia um cara em Hannover, ele ainda está lá, e
também o que é chamado Centro de Bonsai Heidelberg, que depois
tornou-se bastante famoso, então encomendei dois ou três livros deles,
deste livros eu aprendi tudo.
Então
descobri neste livros que aparentemente, nos velhos tempos, os
japoneses e os chineses buscavam suas plantas na natureza. Eu fui
bastante amador e não tinha nenhuma pista sobre como começar, mas eu
sabia onde as árvores estavam, eu morava em Hamburg na época, mas ia
constantemente de férias para a Austria com meus pais. Durante as férias
eu subi a montanha e trouxe de volta um larix (pinheiro), então fiz
isto novamente diversas vezes e depois de um tempo eu tinha uma boa
coleção de árvores coletadas.
Então
descobri que aquilo não estava de acordo com o que os livros me diziam.
Os livros me diziam que a árvore deve ter um bom tronco, com o primeiro
ramo saindo do primeiro terço, que a copa deve ser triangular, enquanto
que aquelas plantas que eu coletava não ficavam em conformidade com as
regras, eu me senti perdido. Então eu tentei fazer com que as plantas
ficasse mais ou menos conforme eu imaginava, eu tentei fazer um bonsai a
partir daquilo. O que agora eu sei que foi extremamente fútil, você não
deve fazer isto, mas eu não sabia. Então eu pensei “Hmm, tenho que ser
muito cuidadoso com a seleção do material que eu coleto”, porque a maior
parte do material não tinha valor como bonsai, naquela época. Hoje em
dia eu sei que é exatamente aquele tipo de material que queremos.
Bom,
eu não era o único na Alemanha, mas certamente eu fui um dos pioneiros.
Na Suíça, ao mesmo tempo, um homem chamado Pius Notter estava fazendo a
mesma coisa paralelamente, mas eu não o conhecia. Então um certo dia eu
pensei “finalmente estou criando algo que de alguma forma pareça
bonito” e fui até o Centro de Bonsai em Heidelberg, onde fiquei
profundamente impressionado com as árvores em exposição, todas árvores
importadas do Japão, algumas da China.
Para
fim, naquela época, as árvores eram extraordinárias, brilhantes, junto
com elas haviam os funcionários e os mestres. Horst Krekeler era um
deles, tendo tornado-se um dos nomes famosos mais tarde, então lhe
perguntei minhas dúvidas, tais como “o que você faz com este tipo de
material coletado?”, das respostas eu tenho que dizer que ele não tinha a
menor ideia, nenhum deles sabia. Eles sabiam exatamente o que fazer com
o material bem preparado, então, se você recebe um material preparado
para ser bonsai e você simplesmente faz o acabamento, você tem um
bonsai, eles sabiam isto, este é o modo como se faz bonsai no Japão a
partir de plantas preparadas para este fim. Eles não sabiam me responder
aquilo que eu estava realmente interessado “o que você faz com material
coletado diretamente da natureza e em inconformidade com as regras do
bonsai?”, então eu tive que experimentar e descobrir sozinho.
Então
tivermos a primeira exibição em Düsseldorf, que foi em 1985 ou logo
depois. Eu descobri que minhas plantas eram grandes, as plantas expostas
eram menores. Comparadas com as outras, minhas plantas eram muito
maiores, muito selvagens, muito mais excitantes para mim, mas descobri
já naquela época que algumas pessoas não gostavam delas, porque não
estavam obdecendo às regras, não se pareciam com bonsai.
De
qualquer forma, chegou um ponto em que eu comecei a ser considerado
como um expert, eu entendia sobre a arte de converter estas árvores em
algo que parece ser um bonsai, da mesma forma que aprendi como não matar
estas árvores, porque no começo sem pista alguma de como proceder, você
simplesmente mata uma árvore após a outra, exatamente como eu fiz.
Então aprendi como mantê-las vivas, descobri também que jardineiros
experientes não sabiam, isto porque a princípio eu pensava “Ah, os
jardineiros podem me dar respostas”, mas descobri então que isto não é
algo que se aprende nas escolas de jardinagem.
Quando
eu estava por desistir eu fui até o “Biolab Course”, que ainda existe,
uma empresa química, busquei o químico encarregado que era especialista
em adubos e perguntei “como se aduba bonsai?”, então ele me deu um adubo
que eles vendem até hoje, mas que não vale nada, é um adubo que não faz
as plantas crescerem, porque não tem nitrogênio naquele adubo, isto
porque ele pensou que um bonsai não deve crescer, você deve mantê-lo
saudável mas sem crescer, enquanto nós sabemos que a verdade é
exatamente o contrário disto, você só consegue desenvolver uma árvore se
ela crescer, para isto precisamos de muito nitrogênio.
Veja
bem, o especialista lider, o melhor químico da empresa, me deu a
resposta completamente errada, então eu aprendi do modo difícil que não
existem especialistas. Certo dia veio este mestre japonês até Heidelberg
e fez uma performance no palco que me impressionou profundamente,
principalmente o modo com que ele arrancava a casca da árvore, criando
madeira morta.
Agora
eu sei, o tipo de planta que ofereceram para ele era tão ruim, tão
pobre, era praticamente um graveto, que a única coisa que ele poderia
fazer era um dramático jin e shari para mostrar alguma ação. Mas ainda
assim, aquilo me impressionou, claro que fui para casa e comecei a
destroçar e quebrar as plantas em pedaços, novamente não havia ninguem
para me dizer o que fazer. Descobri então que estes japoneses te mostram
algo, mas não respondem os questionamentos, mesmo que você faça uma
pergunta, talvez você consiga uma resposta, mas não a resposta que
buscava, então você tem que descobrir sozinho e este é o método de
ensino japonês de qualquer forma, eles nunca te dizem o que fazer, você
tem que descobrir por conta própria.
Então
um dia eu simplesmente descobri e quando isto aconteceu eu fui
considerado o maior especialista, na maior parte ou em toda a Europa.
Enquanto isto o “Bonsai Zen” começou, o “Clube de Bonsai da Alemanha”
começou, exibições por toda a parte, hoje o bonsai europeu é um dos mais
avançados do mundo, mas aconteceu tudo nos últimos trinta anos e eu
estava lá estes exatos trinta anos.
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