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Thursday, September 12, 2013

Walter Pall e os primeiros dias de bonsai na Alemanha


Walter Pall e os primeiros dias de bonsai na Alemanha
Autor: Walter Pall
Colaborador: J.P. Arzivenko


Foi somente no começo da década de oitenta que eu comecei a fazer bonsai, naquela época era muito difícil conseguir informação ou encontrar livros. Eu descobri que existia um cara em Hannover, ele ainda está lá, e também o que é chamado Centro de Bonsai Heidelberg, que depois tornou-se bastante famoso, então encomendei dois ou três livros deles, deste livros eu aprendi tudo.
Então descobri neste livros que aparentemente, nos velhos tempos, os japoneses e os chineses buscavam suas plantas na natureza. Eu fui bastante amador e não tinha nenhuma pista sobre como começar, mas eu sabia onde as árvores estavam, eu morava em Hamburg na época, mas ia constantemente de férias para a Austria com meus pais. Durante as férias eu subi a montanha e trouxe de volta um larix (pinheiro), então fiz isto novamente diversas vezes e depois de um tempo eu tinha uma boa coleção de árvores coletadas.
Então descobri que aquilo não estava de acordo com o que os livros me diziam. Os livros me diziam que a árvore deve ter um bom tronco, com o primeiro ramo saindo do primeiro terço, que a copa deve ser triangular, enquanto que aquelas plantas que eu coletava não ficavam em conformidade com as regras, eu me senti perdido. Então eu tentei fazer com que as plantas ficasse mais ou menos conforme eu imaginava, eu tentei fazer um bonsai a partir daquilo. O que agora eu sei que foi extremamente fútil, você não deve fazer isto, mas eu não sabia. Então eu pensei “Hmm, tenho que ser muito cuidadoso com a seleção do material que eu coleto”, porque a maior parte do material não tinha valor como bonsai, naquela época. Hoje em dia eu sei que é exatamente aquele tipo de material que queremos.
Bom, eu não era o único na Alemanha, mas certamente eu fui um dos pioneiros. Na Suíça, ao mesmo tempo, um homem chamado Pius Notter estava fazendo a mesma coisa paralelamente, mas eu não o conhecia. Então um certo dia eu pensei “finalmente estou criando algo que de alguma forma pareça bonito” e fui até o Centro de Bonsai em Heidelberg, onde fiquei profundamente impressionado com as árvores em exposição, todas árvores importadas do Japão, algumas da China.
Para fim, naquela época, as árvores eram extraordinárias, brilhantes, junto com elas haviam os funcionários e os mestres. Horst Krekeler era um deles, tendo tornado-se um dos nomes famosos mais tarde, então lhe perguntei minhas dúvidas, tais como “o que você faz com este tipo de material coletado?”, das respostas eu tenho que dizer que ele não tinha a menor ideia, nenhum deles sabia. Eles sabiam exatamente o que fazer com o material bem preparado, então, se você recebe um material preparado para ser bonsai e você simplesmente faz o acabamento, você tem um bonsai, eles sabiam isto, este é o modo como se faz bonsai no Japão a partir de plantas preparadas para este fim. Eles não sabiam me responder aquilo que eu estava realmente interessado “o que você faz com material coletado diretamente da natureza e em inconformidade com as regras do bonsai?”, então eu tive que experimentar e descobrir sozinho.
Então tivermos a primeira exibição em Düsseldorf, que foi em 1985 ou logo depois. Eu descobri que minhas plantas eram grandes, as plantas expostas eram menores. Comparadas com as outras, minhas plantas eram muito maiores, muito selvagens, muito mais excitantes para mim, mas descobri já naquela época que algumas pessoas não gostavam delas, porque não estavam obdecendo às regras, não se pareciam com bonsai.
De qualquer forma, chegou um ponto em que eu comecei a ser considerado como um expert, eu entendia sobre a arte de converter estas árvores em algo que parece ser um bonsai, da mesma forma que aprendi como não matar estas árvores, porque no começo sem pista alguma de como proceder, você simplesmente mata uma árvore após a outra, exatamente como eu fiz. Então aprendi como mantê-las vivas, descobri também que jardineiros experientes não sabiam, isto porque a princípio eu pensava “Ah, os jardineiros podem me dar respostas”, mas descobri então que isto não é algo que se aprende nas escolas de jardinagem.
Quando eu estava por desistir eu fui até o “Biolab Course”, que ainda existe, uma empresa química, busquei o químico encarregado que era especialista em adubos e perguntei “como se aduba bonsai?”, então ele me deu um adubo que eles vendem até hoje, mas que não vale nada, é um adubo que não faz as plantas crescerem, porque não tem nitrogênio naquele adubo, isto porque ele pensou que um bonsai não deve crescer, você deve mantê-lo saudável mas sem crescer, enquanto nós sabemos que a verdade é exatamente o contrário disto, você só consegue desenvolver uma árvore se ela crescer, para isto precisamos de muito nitrogênio.
Veja bem, o especialista lider, o melhor químico da empresa, me deu a resposta completamente errada, então eu aprendi do modo difícil que não existem especialistas. Certo dia veio este mestre japonês até Heidelberg e fez uma performance no palco que me impressionou profundamente, principalmente o modo com que ele arrancava a casca da árvore, criando madeira morta.
Agora eu sei, o tipo de planta que ofereceram para ele era tão ruim, tão pobre, era praticamente um graveto, que a única coisa que ele poderia fazer era um dramático jin e shari para mostrar alguma ação. Mas ainda assim, aquilo me impressionou, claro que fui para casa e comecei a destroçar e quebrar as plantas em pedaços, novamente não havia ninguem para me dizer o que fazer. Descobri então que estes japoneses te mostram algo, mas não respondem os questionamentos, mesmo que você faça uma pergunta, talvez você consiga uma resposta, mas não a resposta que buscava, então você tem que descobrir sozinho e este é o método de ensino japonês de qualquer forma, eles nunca te dizem o que fazer, você tem que descobrir por conta própria.
Então um dia eu simplesmente descobri e quando isto aconteceu eu fui considerado o maior especialista, na maior parte ou em toda a Europa. Enquanto isto o “Bonsai Zen” começou, o “Clube de Bonsai da Alemanha” começou, exibições por toda a parte, hoje o bonsai europeu é um dos mais avançados do mundo, mas aconteceu tudo nos últimos trinta anos e eu estava lá estes exatos trinta anos.

Tuesday, September 10, 2013

Walter Pall e seu começo no Bonsai - Portuguese


Walter Pall e seu começo no Bonsai
Autor: Walter Pall
Colaborador: J.P. Arzivenko

No ano de 1979 eu já sabia o que era um bonsai, genericamente, mas eu
nunca havia visto um bonsai de verdade antes. Então eu li em um jornal da Alemanha sobre um viveiro que possuía bonsai em exibição e para a venda, então eu fui lá já que sempre me interessei sobre coisas relacionadas à jardinagem, uma vez que desde minha tenra infância eu fui um jardineiro. Eu fui lá e fique profundamente impressionado e chocado, com a aparência, a idade, obviamente com a idade e as formas. E eu fiquei chocado com as marcas de arame e algumas coisas me pareceram bem feias. De qualquer forma aquilo me pareceu muito difícil, mesmo que me considerasse um bom jardineiro, eu pensei “isto é simplesmente impossível”.


E também a parte artística que me interessou muito eu também achei difícil. Eu cresci em uma família cheia de artistas, meu avô era pintor, meu pai ator (você nunca diria), meu tio foi um poeta e tínhamos lunáticos e doidos por toda a parte. De qualquer forma eu também sou conhecido como um sujeito artista. Então eu pude ver a arte naquilo e achei que era bastante difícil, mas coisas difíceis e impossíveis sempre me intrigaram, então de alguma forma eu me vi de frente com aquilo, e logo depois eu comprei meu primeiro bonsai, foi como comecei, e de lá para cá foi um vício, não consigo viver sem isso, agora é minha vida.

Monday, June 10, 2013

Traditon in bonsai -Portuguese


Tradition in bonsai
translated by arzivenko

Eu tenho uma relação ambígua com a tradição do bonsai.

Primeiro, é a findação na qual nós todos construímos. É de onde o bonsai que vemos hoje veio. Para muitos é o bonsai; não existe nenhuma outra maneira de fazer bonsai. Nós devemos à tradição que possamos ver o bonsai como arte espalhada pelo mundo.

Eu acredito que todo entusiasta deva aprender o máximo possível sobre a tradição do bonsai, isto é indispensável. Eu acredito que o que chamamos "bonsai clássico" é para muitos nossa tradição. Tradicionalmente existem formas (normalmente chamado estilos*) que são designadas no estilo clássico. É um estilo que trabalha em direção à uma árvore ideal; uma abstração que apresenta a árvore perfeita. Todo designer de bonsai deve aprender como estilizar árvores nas formas tradicionais, com o espírito clássico.

Para além de estilizar árvores, existem várias outras tradições em bonsai. Existem os vasos, e como envasar, a apresentação em uma tokonoma, com o estande, objetos de acento, o pergaminho e muito mais. No espírito da arte asiática é completamente aceitável e esperado que outros tentem copiar as conhecidas obras primas e todos os aspectos da tradição. Qualquer divergência deste caminho é questionável.

O outro lado da moeda é que esta não é minha tradição. É uma tradição asiática, sobretudo uma tradição japonesa. Enquanto eu tenho o maior respeito por ela, eu me pergunto se o bonsai na minha parte do munto deve seguir rigidamente uma tradição estrangeira, e se deve, se vale a pena eu investir meu tempo. Bom, eu realmente não me importo, simplesmente me recuso a aceitar isto. Eu acredito que a tradição asiática pode ser usada como um grande ponto de partida, então partimos dela. Enquanto os ocidentais tentarem copiar as obras primas japonesas, bonsai não será uma arte universal. Copiar não é considerado arte na tradição ocidental. Um artista deve ser criativo e ir além da cópia. Nós devemos encontrar nossos caminhos, os quais podem se tornar tradicionais, eventualmente. Um ponto de partida poderia ser o questionamento da filosofia do bonsai tradicional; de criar árvores ideais. Eu sei que isto abre a porta para todo tipo de coisas sem sentido e criações atrozes. Também estou ciente que esta noção não ajuda o entusiasta medianos, o qual procura ajuda e afirmação. Mas abre a porta, pelo menos permite que nós criamos arte e não apenas cópias. Devemos, entretanto, sempre manter o maior respeito por nossos mestres.

Walter Pall

Friday, October 30, 2009

Selando feridas em árvores - Português

Sealing wounds on trees - English

Selando feridas em árvores - Português
Este eu escrevi para o bonsainut em Janeiro de 2009
Alguém poderia pensar que a questão sobre selar ferimentos é algo que poderia ser simplesmente resolvida apenas escutando um profissional que poda árvores como modo de vida, ou um cientista que faz pesquisa com práticas horticulturais. Porém não é assim tão simples. Existem disputas sobre este assunto nos clubes de jardinagem. Existem disputas sobre este assunto nos jornais locais quando árvores são podadas em um parque. No bonsai é praticamente uma guerra santa. Como pode ser possível que uma questão que não deveria deixar dúvida alguma devido sua simplicidade causa tanto alvoroço?
A maior razão, ao meu ver, é que a maioria das pessoas, em geral, não tem ou praticamente não tem idéia alguma sobre o funcionamento de uma planta, mas tem uma idéia geral sobre o funcionamento do corpo humano. Eles sabem que se uma pessoa tem um ferimento grande que não é tratado, isto não é muito saudável. Eles sabem que se deve evitar apodrecer por dentro quando se é um mamífero. Se eu disser que qualquer tratamento iria piorar a situação, e que a ferida deveria ser deixada aberta, me chamariam de doido ou ignorante, e estariam corretos. E o mesmo deveria ser verdade com as árvores, e a terra é chata. Selantes foram e continuam sendo uma idéia baseada neste desentendimento. Então veio Dr. Shigo e revolucionou o mundo da horticultura. Sua pesquisa descobriu algo chamado compartimentalização. De uma maneira doida, ele nos diz que as plantas não apodrecem de dentro para fora, elas formam compartimentos com barreiras químicas e físicas. Estes compartimentos começam no centro de um tronco e ocorrem em diversos anéis até a parte de fora. Enquanto o compartimento de dentro irá apodrecer algum dia, a podridão não irá continuar até o próximo compartimento facilmente. Ela até vai, eventualmente, mas a parte de fora da árvore irá crescer e formar um novos compartimentos. Mesmo se um compartimento interno apodrecer ainda existirá outro mais externo onde a parte vive da planta continuará crescendo. Este processo normalmente é tão lento que a árvore irá crescer para longe da parte podre por anos ou mesmo séculos. Praticamente todas coníferas velha na natureza possuem partes podres em seu interior. Mas graças à compartimentalização, elas não morrem.
Dr. Shigo descobriu que humanos que "ajudam" as árvores, mais ou menos profissionalmente, cometem dois erros:
1) Fazem cortes planos, perpendiculares ao tronco, e desta forma fazem ferimentos grandes que passam por diversos compartimentos. Portanto, criam um grande perigo, onde compartimentos saudáveis passam a ser facilmente invadidos por todo tipo de organismos, fungos, e eventualmente apodreção. 
2) Selantes de ferimento são aplicados convencionalmente com o objetivo de prevenir o apodrecimento das partes internas das plantas. Ele descobriu que ocorre justamente o oposto como conseqüência. Em primeiro lugar, na natureza não existe maneira de prevenir que algum tipo de fungo ou bactéria entre em um ferimento novo. Se algum paisagista pensa que pode prevenir isto, ele está simplesmente enganado. Se você sela o ferimento, irá criar um ambiente ideal para estes organismos trabalharem. Eles necessitam de calor e umidade, o que pode ser conseguido de maneira bem mais eficiente selando um ferimento do que não o fazendo. Então Dr. Shigo revolucionou a horticultura ao postular que selantes de ferimento são superfulos, e podem ainda ser perigosos.
Dr. Shigo é considerado um eterno separados de águas na ciência da horticultura, devido suas descobertas. Um estudante de horticultura que nunca ouviu falar dele é um ignorante. Uma pessoa que pensa que pode combater décadas de estudos científicos das mentes mais brilhantes do mundo com apenas o senso comum é bobo ignorante. Um paisagista que diz não saber sobre Dr. Shigo, e não consegue pronunciar compartimentalização é na melhor das hipóteses uma pessoa simples, ou então um charlatão.
Mas o mundo não mudou tanto. A vertente mais aceita na prática horticultural segue o Dr. Shigo, mas muitas não o fazem. Bem, é fato que alguns vão contra porque leva anos antes de aparecerem os resultados, e eles podem fazer dinheiro ignorando Dr. Shigo. Como assim? Bem, corte um grande galho em um parque público e não trate ele com algo, você verá diversas pessoas pulando sobre você. Eles "sabem" que você está fazendo algo errado. As pessoas pedem para que você trate suas árvores no jardim, e você deixa grandes buracos abertos. Eles irão pensar que você não sabe o que está fazendo. Então existem diversos charlatões que colocam selantes em grandes feridas para fazer dinheiro e para fazer as pessoas se calarem. Estes charlatões sabem que eles não deveriam fazer isto, mas é bom para eles, e não muito ruim para as árvores, pelo menos não imediatamente. E existem ainda, aqueles que não vêem necessidade de continuar seu aprendizado além do básico. Eles continuam fazendo as coisas como eram feitas trinta ano atrás. O problema é que as pessoas preferem ouvi-los do que ouvir a ciência.
Mas o que tudo isto tem a ver com bonsai?
Bem, nós criamos grandes ferimentos nas árvores o tempo todo. Não seriam as descobertas do Dr. Shigo aplicáveis? Minha opinião é que elas certamente são.
Deixando a ciência de lado, agora na prática, o que eu pessoalmente faço após décadas de estudo?
Eu sei que estou ponto em risco os compartimento se eu fizer cortes como normalmente são feitos em um bonsai; ou seja, perto do tronco e ainda com um alicate côncavo que é ainda pior, como Bill V. demonstrou. Ainda assim, decido fazer isto pois sei que não irei matar a árvore. Isto irá criar compartimentos podres, mas NÃO IRÁ MATAR a árvore. Árvores podem ser todas esburacadas e ainda assim ter uma vida bastante longa. Árvores grandes, na natureza, podem ficar em perigo ao perderem estabilidade. Com bonsai, isto não é um problema. Quando faço grandes cortes eu usualmente tenho cuidado de não fazer cortes regulares, como normalmente são recomendados os cortes no bonsai. Existirão calos e em se tratando de um corte grande, sempre existirá um buraco. Com cortes pequenos, existirá sempre uma cicatriz. Eu trato de fazer com que o buraco ou a cicatriz pareçam naturais, ou seja, nunca redondos como se fossem cortados com um alicate. Eu faço escarificações intencionais em toda a borda do ferimento.
Em se tratando de selantes, existe uma grande diferença entre coníferas e não-coníferas. As coníferas em geral não irão apodrecer facilmente pois já possuem os melhores mecanismos de proteção, tais como  resina. Decíduas irão apodrecer muito facilmente, mas eu sei de buracos que irão apodrecer muito mais quando "protegidos". Bem, para a surpresa de muitos eu geralmente quero que o buraco de minhas árvores apodreça. Eu quero buracos grandes e naturais em minhas árvores. Então eu poderia utilizar selantes para fazer com que eles apodreçam. Mas como sei que selantes são superfulos, eu não os uso, em geral.
Eu uso selantes quando faço cortes que eu vejo um perigo de ressecarem muito rapidamente. Acontece em ácer algumas vezes. Alguns galhos eu quebro acidentalmente, e quando penso que podem ter uma chance de se curar eu coloco algum selante no ferimento para prevenir a desidratação. Eu uso um selante que irá desaparecer por si mesmo depois de alguns meses, e que é inexpensivo e pouco visível: Gordura para Ordenhar! Tem uma agropecuária perto da minha casa e eu compro esta gordura por quase nada. (sim, é uma gordura que se usa nas mão para ordenhar as tetas das vacas). É praticamente invisível, age como a Vaselina, age por cerca de um ano e certamente não é venenosa.
E eu escondo ferimentos recentes colocando alguma camuflagem neles.
O que eu digo para aqueles que insistem em selar todo tipo de ferimento nos bonsai? Bem, vá em frente se isto te faz sentir bem, mas lembre que isto faz mais bem a VOCÊ do que a árvore propriamente dita. E não acredite em quem diz que ao usar o selante você será uma pessoa melhor.
Amem.
Walter Pall
Traduzido para o Português por João Pedro Arzivenko Gesing

Wednesday, October 28, 2009

Reconhecendo Padrões no Julgamento de Bonsai - Portuguese

Reconhecendo Padrões no Julgamento de Bonsai

Você consegue diferenciar uma conífera de uma folha larga, somente olhando uma foto? Claro que consegue, qualquer criança consegue. Você consegue diferenciar mesmo quando uma conífera cresce como uma folha larga,e vice versa? Claro que consegue. Você percebe isto em um piscar de olhos sobre a imagem.
OK, agora explique como você fez essa decisão. Alguns serão bem sucedidos em dar uma boa explicação, alguns darão uma explicação pobre, e outros nem darão bola. Mas todos gastarão algum tempo tentando articular uma coisa que eles sabem em um piscar de olhos.
Mesmo que nosso cérebro saiba como como fazer esta classificação, nossa mente consciente entretanto, não é capaz de articular regras. Nosso cerebro é excepcionalmente bom neste tipo de tarefa. Somos maquinas ótimas de reconhecer padrões.
Nosso cérebro se desenvolveu para fazer exatamente isto com grande precisão. Se temos um conjunto de objetos nós podemos formular regras internas para classificá-los. Quando você aprende a ler, lhe é mostrado muito exemplos da letra "a". Você aprende a ver a letra "a" mesmo se for escrita a mão, ou datilografada. Você pode dizer a letra "a" imediatamente mesmo que escrita com uma caligrafia péssima ou impressa em algum lugar incomum. Você pode fazer isto mesmo que nunca tenha visto esta "fonte" anteriormente. Mas seria bastante difícil se você fosse tentar explicar como chegou nesta conclusão a cada vez.
Você é muito bom em decidir instantaneamente que uma letra não é a "a". Portanto, deve existir um mecanismo que possibilita a você fazer a leitura do texto em uma velocidade enorme.
Conhecimento de algo abstrato é ainda mais complexo. Você aprende muito cedo o que é um bom e um mau comportamento. Lhe são dados muitos exemplos quando criança. Quando você cresce seu cérebro cataloga muitos exemplos de o que é bom ou mau comportamento, em algum ponto descobre regras e como se decidir. Quando você é posto em uma situação nova em sua vida, na qual você nunca esteve antes, você pode instantaneamente aplicar as regras. Portanto, todos temos regras internas, mas elas variam dependendo de como foram desenvolvidas. Desta forma nós temos uma noção diferente sobre moral. Estas diferenças se tornam marcantes quando conhecemos uma pessoa que cresceu em uma cultura completamente diferente e que aparentemente aplica regras radicalmente diferentes a respeito da distinção de "bom" e "ruim".
Então, o que isto tudo tem a ver com bonsai? Bem, ocorre exatamente o mesmo quando aprendemos a apreciar um bonsai. Nós aprendemos que uma árvore que segue as regras, as quais são escritas na pedra, são boas.  Quando ela quebra uma destas ruas, ela se torna ruim. Nós aprendemos que as árvores desenhadas por Naka, Kimura, qualquer grande mestre japonês, são boas. Não nos contentamos com o que nos é simplesmente dito. Aprendemos a procurar padrões nas árvores que vemos. Nós aprendemos a ver "boas" aplicações das regras bem como aplicações "ruins".  Nós aprendemos a ver similaridades em árvores que são "boas" e criamos internamente nossas próprias regras de como decidir. Então podemos julgar uma árvore que nunca vimos antes. Podemos dizer de longe quando vemos um pedaço de material bruto ou uma obra de mestre. Não somos igualmente bons nisto. Alguns podem ir bastante longe e se tornar bons julgadores de bonsai. Tenha em mente que não existe nada escrito aqui sobre a palavra CRIAR bonsai. É tudo questão de julgar o que vemos. Neste conceito uma pessoa pode se tornar um especialista em julgar bonsai sem nunca ter encostado em uma árvore.
A questão agora é, em que extensão estamos verdadeiramente julgando o mérito de um bonsai, e em que extensão estamos somente utilizando nossa habilidade de reconhecimento de padrões.
Sim, alguns bonsai tem a habilidade de nos comover emocionalmente,  de passar uma mensagem, de nos fazer ver sua "alma". Mas como saber se esta resposta não é simplesmente uma reação aprendida? Apreciação de bonsai requer treinamento. Não é, geralmente, o caso de alguém que sem treinamento poderia distinguir um bonsai "bom" de um "ruim". Não é possível que o que chamamos de treinamento artístico seja essencialmente treinamento para classificar padrões?
Um passo adiante agora. Eu treinei a mim mesmo para apreciar bonsai contemporâneos, vendo muitos deles, se meu cérebro é bom neste tipo de coisa, então eu devo formular regras para descobrir o que eu considero bonsai "bons" e distingui-los dos "ruins". Quando vou até uma exposição e vejo o trabalho de um novo artista, eu vou aplicar minhas regras de "bom" e "ruim" e fazer meu julgamento se este artista é de alguma forma bom. Desde que a maioria de nós é treinado pelos mesmo livros e por exeplos similares de bonsai "bons" ou "ruins", nossa opinião será parecida com a de outros bonsaistas, e  o novo artista será rotulado de acordo com isto.
Da mesma forma isto se aplica com os artistas de bonsai. Se eu decidir me tornar um mestre de bonsai, eu vou julgar meu próprio trabalho bom as mesmas regras de "bom" e "ruim" e produzir bonsai que transpareçam meus próprios critérios de julgamento. Portanto, uma vez que alguns trabalhos se estabilizam como exemplos da boa arte, fica praticamente garantido que este padrão será perpetuado pelos futuros artistas e críticos. Isto vai tão longe que um número considerável de entusiastas e artistas acreditam que existe apenas um caminho para fazer um "bom" bonsai. Existe uma forte tendência ao fundamentalismo, isto é inerente ao sistema que envolve o gosto pelo bonsai.
Agora, na apreciação do bonsai existe, é claro, mais de um padrão de reconhecimento, mas existe alguma maneira, de algum dia separar os dois? Normalmente não existe um observador de fora do sistema, e nunca poderemos saber em que extensão nossas preferências são baseadas no conhecimento de padrões, do qual recebemos treinamento no passado.  Mas você lembra o exemplo acima quando "sabemos" exatamente o que é moralmente bom ou ruim e que uma pessoa de outra cultura pode ter um código completamente diferente de moral? Esta questão é sobre quando escutamos uma pessoa que vem de outra cultura do bonsai. Se escutarmos, vamos entender o que ele está falando? Provavelmente não, e provavelmente vamos querer rebater com nosso código muito bem definido sobre o mundo do bonsai ao invés de questionarmos continuamente o que estamos pensando. Não percebemos que o que estamos pensando sobre regras "naturais" somente se desenvolveram acidentalmente, e se tornaram um código amplamente aceito. Mas por pura coincidência poderia ter sido um código completamente diferente.
Não poderíamos trazer a uma exposição de bonsai uma pessoa da rua que nunca foi exposta a qualquer teoria sobre bonsai? Claro, poderíamos, mas o que esperar? A pessoa faria alguns julgamentos e daria algumas explicações, mas ela não irá nos dizer muito mais do que teria dito uma pessoa bem leiga e sem histórico em nossa frente.  A arte não deixa de ser uma forma de linguagem, sem ficar na chuva para se molhar, ninguém pode aprender a ler esta linguagem.
Uma historia fala sobre uma pessoa que se aproxima de Picasso e lhe fala "Senhor Picasso, eu não entendo sua arte". Picasso responde, "você sabe chinês?". "Não". "mas Chinês pode ser aprendido".

Como saberemos algum dia a verdadeira diferença entre elitismo perpetuado pelo reconhecimento de padrões e o valor intrínseco de um bonsai?

Adaptado de: "Art and Elitism: A Form of Pattern Recognition" by

Kunal Sen, 2007, Encyclopedia Britannica blog

Walter Pall
Traduzido para o Português por João Pedro Arzivenko Gesing

Thursday, October 22, 2009

Reflexões sobre apreciação de bonsa - Português


Reflexões sobre apreciação de bonsai.


Este artigo foi publicado no "Art of Bonsai Project" (projeto bonsai-arte, na tradução livre). Ele foi submetido para uma revista de bonsai americana, muito prestigiada, mas não foi aceita por medo de "não-entendimento".  Quão burros eles pensam que os bonsaistas americanos são?


Reflexões sobre apreciação de bonsai.
por Walter Pall


Bonsai é a arte do visível. Este argumento é comumente utilizado na teoria da arte para a pintura e escultura. Aparemente trivial, este argumento é bem aceitado no Ocidente. Na Ásia se pensa o oposto: bonsai é a arte do invisível. O bonsai como peça de arte não é uma partitura aberta, mas sim como um poema de quatro linhas, onde a quarta linha está faltando. Bonsai não é a arte do visível, é a arte de fazer visível, durante o processo de visualizar algo acontece dentro do espectador, o qual vê algo que não está lá.

Do ponto de vista do designer, bonsai é a arte de fazer visível algo que não estava lá previamente, que pertence ao desconhecido e não pode ser entendido com nosso intelecto. O intelecto pode auxiliar em refletir a respeito da história que a árvore está nos contando sobre a natureza. Mas o intelecto não pode nos ajudar a entender as emoções que estas histórias evocam. 

O espectador fica supostamente concentrado no visível e o que ele sente, não com a técnica que o artista tenha utilizado. Isto não auxilia em compreender um bonsai, se alguém sabe muito a respeito da técnica, de seu design, ou mesmo sobre o artista. O espectador que possui certo conhecimento tem a tendência de desmontar a árvore, e imediatamente começa a critica-la. Ele é tendencioso e não deixa a árvore tocá-lo, falar com ele. Os entusiastas do bonsai são os piores críticos. Eles pensam sobre o que teriam feito, em como poderiam melhorar a árvore, ao invés de deixá-la causar impacto sobre seus sentimentos.  Eles deveriam tentar aceitar, pelo menos por um momento, o bonsai como ele é.  Por esta razão julgar árvores de acordo com "critérios de julgamento" é problemático. Ao invés de deixar o bonsai causar impacto sobre os sentimentos até a alma e pontuar de acrodo com este impacto, o jurado despedaça a árvore com seu intelecto. No melhor caso o trabalho pode ser julgado desta forma, e na pior das hipóteses a árvore será desqualificada justamente pelo forte impacto que geralmente é causado por fatores desconhecidos. Não é julgado o sentimento que o bonsai causa, mas como esse sentimento foi criado.

O espectador preocupado e presunçoso não vai além do tocável, portanto não consegue alcançar o artístico. Ele quer compreender onde não há nada a ser compreendido. O entendimento ocorre com a parte esquerda do cérebro, a qual, entretanto, nunca poderá compreender uma obra de arte porque este não é um processo intelectual. Para o espectador que é normalmente orgulhoso de seu conhecimento, de seu intelecto, o sentimento mais humilhante é ser tocado por algo que é intocável, incompreensível, algo que ele não consegue por em contexto com o real e o mundo compreensivo das mais comuns regras de design do bonsai. Neste caso o espectador é posto em uma posição inferior - ele rege com uma intelectual arrogância, despedaçando o bonsai e odiando-o, porque odeia sua humilhação. Isto explica porque o bonsai que não segue em conformidade as muito bem documentadas regras (japonesas) são normalmente rejeitados, mesmo quando possuem valor artístico muito maior que as árvores clichês. Isto não quer dizer, claro, que um bonsai que foge as regras é automaticamente uma obra de arte.


Schopenhauer tem dito que se deve aproximar de uma obra de arte como uma pessoa de alto nível. Isto quer dizer que devemos humildemente esperar até se aproxime para comunicação. A energia que o artista impõe sobre sua peça, o revela ao espectador que relaxa completamente e coloca sua vontade de lado. De acordo com as atuais pesquisas cerebrais, pode-se dizer que o espectador relaxado deixa seu lado esquerdo do cérebro (sua vontade) a descansar, e admira a obra de arte como ela é, com seu lado direito do cérebro, sem colocar críticas em palavras automaticamente.


É assumido que neste contexto o bonsai em questão é uma obra de arte. Como distinguir a arte real do esforço amador e quem faz isto, é um assunto totalmente novo que requer uma longa explicação em um outro artigo.


Para o espectador não é útil parar em frente da árvore e tentar entendê-la, fazer penetrar em sua mente. Funciona muito melhor se parar em frente da planta e deixar que ela o atinja sem preconceitos. O espectador deve, casualmente, sentir que encontrou as formas, as cores, como se ele próprio tivesse criado o bonsai.
O espectador leigo tem uma vantagem. Ele não tem o conhecimento para reflexões intelectuais. Suas conjecturas não são profundas. Ele tem menos procupações, está mais ocupado em admirar. Como ele não pode entender com seu intelecto, ele simplesmente o deixa de lado. O espectador leigo irá perceber que o bonsai não parece muito natural, como as árvores que ele vê diariamente. Ele irá perguntar o porquê disto. Bem, elas não são imitações de árvores naturais, mas sim idealizações de árvores naturais. E isto é uma questão de gosto - mas o gosto pode mudar. Atualmente o gosto japonês domina o mundo do bonsai, mas isto pode mudar novamente. O espectador leigo é como um alien de uma estrela distante que olha uma revista de moda e faz perguntas sobre o motivo das mulheres não parecerem mulheres "de verdade". A opinião do público geral, o senso comum, entretanto, é suspeito de ser dominado pela mediocridade. Simplesmente, o gosto leigo é normalmente vulgar.

O público leigo não pode ser tão leigo, caso contrário irá perder muito. O público leito deve ocasionalmente se transformar em um público entusiasta do bonsai. O público pode não entender por que árvores mortas são exibidas, quando árvores decíduas não apresentam folha alguma durante o inverno. O uso de muita madeira morta no bonsai é visto por muitos como um sinal de que a árvore está morta, ou irá logo morrer. Bonsai de maior tamanho são normalmente ignorados, porque não são "verdadeiros" bonsai, um bonsai de verdade é bem pequeno.

Um bonsai não é um livro aberto, com conteúdo disponível a qualquer um que olhe para ele. Ele consiste de muitas pistas escondidas, na teoria artística isto se chama "metáfora". Quem não entende as pistas irá ver apenas uma pequena árvore em um pote. Quem não conhece a frase "luta pela sobrevivência", terá muita dificuldade de entender um bonsai cheio de madeira morta, com uma breve veia viva, mas com folhagem exuberante. O descuidado irá perguntar por que a árvore é exibida se já está morta, ou então confessa que isto causa um sentimento doentio. Quem não aceita admirar o que é velho, coisa muito normal entre os asiáticos, irá se admirar muito mais com árvores decíduas joviais do que com velhas coníferas.

Geralmente é um mistério, para o entusiasta, por que uma pessoa fica em frente a um belo bonsai e não pensa que ele é belo. O entusiasta pensaria que a árvore é boa, e que todos deveriam ser capazes de ver isto, inclusive um leigo. Mas isto não acontece. A árvore por si própria não é bonita ou ruim, ela apenas emite sinais. O receptor deve aprender a reconhecer estes sinais, a decifrá-los e então a apreciar a árvore. Isto consume um longo tempo de educação. Apenas a interpretação de sinais leva a informação, onde alguém vê um pobre, ou um belo bonsai. A informação não está na árvore, mas sim no cérebro do espectador. "A beleza está nos olhos de quem vê". O modo que um espectador vê um bonsai é bastante conectado com sua própria experiência de vida, ao conhecimento adquirido pelo espectador. É interessante notar que o conhecimento adquirido não é apenas na forma racional, em palavras, mas também em forma de imagem e emoção.

Muitas pessoas tem problemas com o uso "excessivo" de madeira morta na arte do bonsai. Isto se deve ao fato de não terem visto árvores suficientes com muita madeira morta. podemos ver estas árvores na natureza, mas apenas em condições extremas, como no alto de montanhas, ou regiões áridas. Um fazendeiro das montanhas de Tyrol (região no oeste da Áustria), que nunca viu um bonsai em sua vida, vai até uma exposição, Ele não pergunta "quão velho é este bonsai?", "quanto ele custa?", não, ele pergunta "como pode uma árvore tão pequena ser atingida por um raio?". Ele possui a vivência necessária para saber que qualquer árvore naquele estado foi atingida por um raio alguma vez. Ele não questiona o uso da madeira morta e suas formas extremas, devido a sua experiência de vida.

Por outro lado, podemos encontrar pessoas que sabem muito bem como uma árvore pode ficar em condições extremas, mas ainda assim são contra designs extremos em bonsai. A razão é que muitos espectadores esperam em um bonsai uma representação "ideal" de uma árvore. Sendo a árvore ideal uma árvore mediana, mas excepcionalmente bela, nunca uma extrema. Isto é muito dificil de ser aceito pelo artista que já está entediado com árvores normais, que aprendeu a ver as mais extremas como ideais. O bonsai está indo tão longe do natural ideal que está se tornando abstrato e não aceito pelo espectador leigo.

Pode-se dar o seguinte conselho para o espectador de um bonsai: Livre-se dos nomes, descrições, estilos, formas, e deixe a árvore como ela é, penetrar você (não interprete errado). Tudo que pode ser dito com palavras não tem importância para o espectador, apenas o sentimento conta agora. O espectador deveria olhar, e não ver. Olhar é a forma desarmada de ver um bonsai, sem preconceitos. O espectador é o oposto disto, ele é racional, direcionado. Pode-se dizer que o olhar acontece com o lado direito do cérebro, enquanto o "ver" contece com o esquerdo. Quem aceita este conselho irá esquecer as regras, como o artista fez quando criou o bonsai. O bonsai será um banquete para o olhar, mas não para o intelecto.







Um carvalho californiano, foi exibido na convenção GSBF em 2003, Fresno, CA.

Esta foi a crítica de Walter Pall sobre o carlho de Katsumi Kinoshita from Monterey, CA

"Esta é a árvore mais feia da exibição! Nossa, é muito feia! Eu ando para longe dela, mas paro e olho para trás, ela é muito feia! Indo até a árvore novamente. Como alguém ousa exibir uma árvore destas em uma exibição tão importante? Tudo está errado neste bonsai. Aliás, é um bonsai? ou apenas um pedaço de material em um pote? Olhe a conicidade invertida - terrível. Onde está o nebari? não existe. Onde está o primeiro galho? É uma atrocidade - ocorre em toda a árvore. Esta copa parece mais a de um cogumelo do que de um bonsai. Em uma escala até cem esta árvore ganha menos cinqüenta. Nossa, ela é feia! Distanciando e deixando a árvore falar por si só.

Olhando de volta e tentando ver algum detalhe se aproximando, aproximando. Olhe para isto aqui na parte de trás da copa, é um velho e enorme buraco. Uma coruja gigante deve viver nele. Olhe o tronco - é tão rugoso. Como pode esta atrocidade que é o primeiro galho ter este formato tão incomum. Onde esta árvore adquiriu estas cicatrizes enormes? Deve ser uma árvore realmente muito velha. Quando mais longe eu fico, mais velha ela parece. Este carvalho deve muito bem ter seus quinhentos anos. Que tal isso! Esta árvore está aqui desde antes dos espanhóis virem. O vigia do vale viu os nativos americanos, os espanhois se irem, viu os russos, a corrida do ouro, viu a república da california! ele viu tudo - muito, muito mais do que nós iremos algum dia ver . O vale pertence a esta árvore. Ela é tão forte que não se importa com o que pensamos dela. Não existimos para ela.
Tenho profundo respeito por esta árvore. Começo a admira-la. Ela é tão feia! feia de uma maneira séria, de uma maneira respeitável, como uma pessoa velha. Esta árvore me impressiona profundamente.

É um bonsai? é um bom bonsai? Bem, se bonsai é trabalho e é para julgar pelo intelecto, é um bonsai terrível. Se bonsai é arte, então devemos perguntar: é arte quando toca nossa alma? Sim, é alta arte quando toca profundamente nossa alma? Sim, a arte é sobre criar algo realmente bonito? Não! Arte é sobre criar algo que toque a alma - e pode ser bem feia.
Esta árvore é tão feia que começou a se tornar bela novamente. Queremos melhorar este carvalho? Não, mas talvez possamos deixa-lo um pouco mais feio."

Walter Pall
Traduzido para o português por João Pedro Arzivenko Gesing.

Wednesday, October 21, 2009

Lixo Para a Janta - Português

Lixo Para a Janta - Português





Este eu postei no bom e velho bonsaitalk, quando ele era o forum mais ativo do mundo. Este tópico resultou em muitos acessos e comentários.




Eu não freqüento muito os fóruns de culinária, e não sei de fato o que se passa neles. Seria provável que uma das receitas de pudim se apresentasse assim?: "Eu fui até as latas de lixo de minha cidade recentemente, e elas estavam repletas de coisas que dariam uma boa refeição. Eu convidei meu chefe e sua esposa para um jantar esta noite, e peço a você, para me dar seu melhor conselho para organiza um maravilhoso jantar com o que eu tenho. " Eu adoraria ler a resposta! Cínico? Bem, isto acontece todos os dias com bonsai. Por alguma razão algumas pessoas pensam que a arte do bonsai consiste em fazer uma obra de arte com lixo! A verdade é esta: a arte do bonsai consiste em aprender como julgar e selecionar o melhor material possível antes de tudo. Algumas vezes ele pode até vir da lata de lixo, mas ainda assim é um bom material que um mestre pode avaliar rapidamente. Se um novato tenta a sorte com lixo, ele invariavelmente irá falhar. Por que as pessoas economizam R$20,00 de comprar um bom material e então passam horas trabalhando seu patético material vindo do lixo? Se alguém tem um trabalho honesto, deveria ser possível para ele receber R$10 à R$50 ou muito mais por hora de trabalho. Quanto tempo alguém trabalha em um bonsai durante um ano? 10 horas? 100 horas? Bem, aqui está uma simples equação: pegue a quantidade de horas que você possivelmente irá trabalhar em uma peça no futuro, multiplique por seu salário/hora. O resultado é uma soma razoável para gastar em material, o qual você irá trabalhar de maneira agradável. Eu gasto a maior parte do tempo, esforço e dinheiro em adquirir o melhor tipo possível de material. O melhor possível é apenas bom suficiente. Então as pessoas me perguntam o que fazer com o que encontram na lata de lixo - e esperam uma resposta polida sobre isso!! Isto vai além da possibilidade de ser politicamente correto, para mim. Alguém tem que dizer isto a eles, e eu digo!




Walter Pall
Traduzido para o Português por João Pedro Arzivenko Gesing

Tuesday, October 20, 2009

Cego de um olho - Português

Cego de um olho - Português

Este artigo foi publicado no "Art of Bonsai Project" (projeto bonsai-arte, na tradução livre), em janeiro de 2007. Naquelas circunstâncias eu não pude acreditar em alguns pontos discutidos nos foruns de bonsai, então me perguntei como pessoas tão razoáveis poderiam estar tão erradas em seus julgamento a respeito da qualidade dos bonsai. Um de meus inimigos mais queridos me decepcionou ao máximo. Isto foi escrito para ele.


Cego de um olho

É esperado que uma mãe sempre defenda seu filho, e sempre pense que ele é o melhor em todos os aspectos do que ele realmente é, caso visto com olhos mais objetivos. Esta é a natureza humana, e nós a perdoamos.

É esperado, em geral, que o pessoal do bonsai pense que suas árvores são melhores do que realmente são. Esta é a natureza humana, e nós a perdoamos.

É esperado que a maior parte das pessoas, em geral, pense que o bonsai em seu país é melhor do que realmente é, caso visto com um olhar mais objetivo. Esta é a natureza humana, e nós a perdoamos.

O que realmente me atinge é quando eu encontro pessoas racionais, inteligentes, com cultura, educação e que são completamente irracionais ao julgar suas próprias árvores. Bem, novamente é a natureza humana que o impede de julgar a si próprio, mas ainda assim é esperado que a diferença entre a realidade e a percepção pessoal não seja tão grande assim. Bom, com algumas pessoas é assim que acontece, mas eles são uma minoria dentre a população geral. Por que elas aparentemente, no mundo do bonsai, existem mais pessoas cegas de um olho?

Na Alemanha nós temos apresentações de críticas a mais de vinte anos. A grande convenção alemã sempre foi um show de críticas e o resultado impresso na revista do clube, e recentemente é exposto na internet. Em minha viagens eu conheço mais pessoas do que gostaria, as quais ficam um longo tempo me explicando o quão terrível foi, e como suas árvores ou então as melhores de seu clube poderíam ganhar prêmios por toda parte. Se eles quisessem apenas mostrá-las, claro.

Quando olho as árvores das quais eles estão falando a respeito eu invariavelmente me encontro chorando. Como eu faço para explicar para esta pessoa, normalmente razoável, que ela está errada? não muito errada, mas COMPLETAMENTE errada? Como regra, as árvores que são mostradas a mim não deveriam entrar de modo algum no concurso, porque existem padrões mínimos para entrar, e ganhar o concurso é algo completamente fora de questão.

Eu cheguei a conclusão que existe mais do que apenas a natureza humana em se tratando deste caso. Este fenômeno usualmente ocorre quando as pessoas tem mínima exposição ao real mundo do bonsai, apenas com imagens. Todos vivenciamos a esta experiência, uma certa árvore que possui extrema beleza, mas quando é vista em fotografia parece ser bastante medíocre. Isto ocorre por duas razões:

A respeito das fotografias:
É bastante difícil fazer uma boa foto de um bonsai, da mesma maneira que é difícil fazer um bom retrato de uma pessoa.
Mesmo fotógrafos experientes mostram, geralmente, fotografias não tão boas de bonsai.
Bonsai é uma escultura tridimensional, e geralmente parece tão bela devido a sua transparência e profundidade de composição. Uma fotografia é bi-dimensional por natureza, e o impacto da tri-dimensionalidade e profundidade é perdida.
Muitas vezes acontece de uma árvore parecer bonita em uma fotografia, mas não ser tão bonita assim na realidade. Estas são árvores que usualmente são construídas bi-dimensionalmente. A fotografia se apresenta exatamente como a árvore foi criada. Então na realidade a culta não é do fotógrafo.
Devido a falta de fotografias realmente boas, geralmente fotografias medíocres são mostradas para que se mostre pelo menos alguma coisa.

A respeito do espectador:
Agora, se uma pessoa não está a par deste fenômeno ela vai, geralmente, de algum modo subestimar o bonsai que está admirando apenas em fotografia. Eu tenho este deja-vu toda ves que uma pessoa que pensa que "conhece" certas árvores das fotografias e vê elas pela primeira vez exibidas fica estonteado, encantado em como elas causam muito mais impacto na realidade.
Agora, eles certamente devem ter visto com seus próprios olhos as árvores de seus amigos. Como dito anteriormente, é da natureza humana ver suas próprias árvores de uma forma especial, e valoriza-las muito além do que elas merecem. E esta é a natureza humana, e é o que se espera. Um designer de bonsai deve ter a visão do futuro da árvore. A visão é normalmente tão forte que sobrepõe a realidade.

Agora combine as duas coisas:

Árvores que parecem pior ou muito pior do que são na realidade, comparadas com árvores que na mente do entusiasta são melhores do que são na realidade. A discrepância é enorme.

O resultado é que as árvores que normalmente são comparadas, não o deveriam ser, sem dispensar muita reflexão a respeito. As pessoas comparam as árvores que conhecem na realidade com fotografias de árvores. Se as mesmas árvores fossem postas lado-a-lado seria possível que a maioria visse onde estão as diferenças. Mas isto não ocorre. Existem diversas razões para que isto não ocorra, e a maioria é respeitável. Mas a comparação não ocorre. E as pessoas, que normalmente são razoáveis, não aceitam de modo algum os julgamentos. Mas também é verdade que pessoas as quais freqüentam exposições e participam de algum modo como expectadores sabem o que se passa no mundo do bonsai - bem, o que é o mundo do bonsai para ela, pode ser regional, ou nacional, mas ainda assim, limitada. Então o mesmo fenômeno se aplica. Elas olham as revistas, os livros, e comparam as figuras das árvores ao redor mundo com os bonsai que eles conhecem na realidade. O resultado é a complacência.

A internet trouxe o mundo junto. Certamente trouxe fez o mundo do bonsai se unir. Abriu os olhos das pessoas consideravelmente. Mas certamente não fez o suficiente. E isto se deve ao fenômeno que aqui apontei.

Walter Pall
Traduzido para o português por João Pedro Arzivenko Gesing.